Ao longo dos anos a divulgação das
potencialidades da ovinocultura pela mídia, vem chamando a atenção de muitos
proprietários rurais que se entusiasmam diante da nova possibilidade de
investimento. Proponho então a seguinte pergunta: O que eu (ovinocultor),
deveria saber sobre a suplementação alimentar dos ovinos? Responder esta
pergunta não é tarefa fácil pois envolve muitas frentes de discussão.
Em primeiro lugar, a experiência tem mostrado
que em matéria de suplementação, a discussão tem se concentrado majoritariamente
sob o ponto de vista nutricional, enquanto que ainda temos uma literatura
escassa quando o tema é tratado sob a ótica econômica.
Para compreender o efeito que a suplementação
alimentar dos ovinos pode exercer sobre o resultado econômico da atividade, é
necessário analisar alguns fatores ligados ao potencial zootécnico da
espécie. Para simplificar esta discussão, serão descritos
neste artigo três aspectos básicos (porém não exclusivos) que exercem efeito
sobre os programas de suplementação dos ovinos, sendo eles: o custo energético
total para a produção de um cordeiro terminado, o potencial genético de ganho
de peso dos animais, o valor de mercado da carne ovina.
A determinação do custo total de produção de um
cordeiro terminado depende da compreensão da dinâmica de crescimento e produção
do rebanho. Considerando um rebanho estabilizado em tamanho, pode-se
quantificar em termos energéticos, qual é a demanda relativa para cada
categoria deste rebanho. Esta determinação é influenciada pelo modelo de
produção considerado. No quadro 1, são apresentados valores teóricos para seis
sistemas distintos de produção, variando entre si pelo intervalo entre partos
(IEP) e pelo tempo necessário para recria e terminação (em meses).
Quadro 1. Custo energético do
desfrute, reposição, matrizes & reprodutores que compõe o custo total do
cordeiro terminado para diferentes sistemas de produção.
Fonte: BENKO, G.; PÉREZ, J. R. O.; SALVADOR, F. M. Modelo para avaliação de um Sistema de Produção de Ovinos. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE
OVINOCULTURA, 4., Lavras, MG. Anais das palestras.... Lavras: UFLA. Grupo
de Apoio à Ovinocultura, 2005. 16 f. 1 CD-ROM.
O IEP é o fator de maior peso sobre o custo
energético total para a produção de um cordeiro terminado, sendo a intensidade
de ganho de peso, o segundo fator de maior importância. Assim, dentre os
cenários descritos no quadro 1, o mais favorável sinalizou que de 100% do custo
energético total para produção de um cordeiro, 77,15% foi consumido pelas
matrizes e reprodutores, 2,58% pela reposição de animais no rebanho e, apenas
20,27% foi consumo diretamente pelo cordeiro terminado. Isto significa que para
se produzir um cordeiro, aproximadamente 80% do gasto energético total é
investido na manutenção do rebanho e apenas 20% deste total é correspondente à
demanda específica cordeiro terminado.
Tal simulação teórica encontra respaldo na
observação prática de muitos produtores rurais que, ao produzirem e venderem
seus cordeiros, ainda encontram dificuldade em equilibrar as despesas com o
rebanho. É exatamente neste momento que os planos de suplementação dos
rebanhos passam a ser percebidos como estratégicos para a saúde econômica dos
sistemas.
Em outras palavras, as soluções nutricionais a
serem propostas para matrizes e reprodutores, animais de reposição e cordeiros
em recria/terminação, devem ser diferentes. Além disso, é importante considerar
que são os cordeiros terminados que ao serem vendidos, se transformarão em capital. Por este motivo, incide
exatamente sobre esta categoria à necessidade de maximizar a rentabilidade.
Neste sentido, discutir o potencial genético de
ganho de peso da espécie passa a ser de grande relevância. Para discutir este
tema, direcionaremos nossa discussão aos cordeiros em recria e terminação. Um outro
aspecto a ser considerado é a expressiva amplitude de manifestação do potencial
de ganho de peso entre as raças que normalmente são exploradas no Brasil.
Entretanto, é importante salientar que para todas elas já foram descritos na
literatura, potenciais de ganho de peso relativamente elevados.
Como exemplo, em sistemas intensivos de produção
de cordeiros, resultados de ganhos de peso de 0,85% - 1,0% (expresso em % do PV
ao dia) são relatos frequentes para animais da raça Santa Inês. Já para animais
híbridos, provenientes de cruzamentos com raças de corte exóticas, são descritos valores de 1,0 - 1,4%. Para efeito de comparação, considerando a
espécie bovina (também em sistemas intensificados), são descritos potenciais de
ganho de peso da ordem de 0,35% - 0,40% do PV ao dia. Assim, a espécie ovina
durante o recria e terminação pode atingir níveis de ganho de peso até 3,5x
superiores aos observados nos bovinos.
Porém, esta potencialidade genética dos ovinos somente poderá ser manifestada,
em sistemas intensificados de manejo e nutrição.
A otimização do ganho de peso dos cordeiros
configura-se então, como ponto estratégico para o sucesso econômico da
atividade, que deve necessariamente passar por um processo de intensificação.
Além disso, a definição de planos nutricionais para as demais categorias do
rebanho, como as matrizes, devem
respeitar as limitações econômicas impostas pelas margens financeiras da
comercialização do produto final (cordeiro). Fica claro portanto, que o valor
de mercado da carne ovina acaba por determinar os pontos de equilíbrio do
sistema. O que implica em dizer que para cada realidade mercadológica haverá
uma solução diferente do ponto de vista nutricional que otimize economicamente
o sistema de produção.
Por fim, cabe ressaltar que a nutrição animal em
sistemas pecuários opera como principal regulador das intensidades produtivas.
Neste aspecto, salienta-se que a suplementação dos ovinos é uma estratégia
nutricional necessária nos rebanhos e por este motivo, deve ser planejada
levando-se em consideração a realidade econômica de cada sistema de produção.
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