quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Suplementação de Ovinos – Necessidade e Limitações


Ao longo dos anos a divulgação das potencialidades da ovinocultura pela mídia, vem chamando a atenção de muitos proprietários rurais que se entusiasmam diante da nova possibilidade de investimento. Proponho então a seguinte pergunta: O que eu (ovinocultor), deveria saber sobre a suplementação alimentar dos ovinos? Responder esta pergunta não é tarefa fácil pois envolve muitas frentes de discussão.
Em primeiro lugar, a experiência tem mostrado que em matéria de suplementação, a discussão tem se concentrado majoritariamente sob o ponto de vista nutricional, enquanto que ainda temos uma literatura escassa quando o tema é tratado sob a ótica econômica.
Para compreender o efeito que a suplementação alimentar dos ovinos pode exercer sobre o resultado econômico da atividade, é necessário analisar alguns fatores ligados ao potencial zootécnico da espécie.  Para  simplificar esta discussão, serão descritos neste artigo três aspectos básicos (porém não exclusivos) que exercem efeito sobre os programas de suplementação dos ovinos, sendo eles: o custo energético total para a produção de um cordeiro terminado, o potencial genético de ganho de peso dos animais, o valor de mercado da carne ovina.
A determinação do custo total de produção de um cordeiro terminado depende da compreensão da dinâmica de crescimento e produção do rebanho. Considerando um rebanho estabilizado em tamanho, pode-se quantificar em termos energéticos, qual é a demanda relativa para cada categoria deste rebanho. Esta determinação é influenciada pelo modelo de produção considerado. No quadro 1, são apresentados valores teóricos para seis sistemas distintos de produção, variando entre si pelo intervalo entre partos (IEP) e pelo tempo necessário para recria e terminação (em meses).

Quadro 1. Custo energético do desfrute, reposição, matrizes & reprodutores que compõe o custo total do cordeiro terminado para diferentes sistemas de produção.
Fonte: BENKO, G.; PÉREZ, J. R. O.SALVADOR, F. M. Modelo para avaliação de um Sistema de Produção de Ovinos. In: SIMPÓSIO MINEIRO DE OVINOCULTURA, 4., Lavras, MG. Anais das palestras.... Lavras: UFLA. Grupo de Apoio à Ovinocultura, 2005. 16 f. 1 CD-ROM.


O IEP é o fator de maior peso sobre o custo energético total para a produção de um cordeiro terminado, sendo a intensidade de ganho de peso, o segundo fator de maior importância. Assim, dentre os cenários descritos no quadro 1, o mais favorável sinalizou que de 100% do custo energético total para produção de um cordeiro, 77,15% foi consumido pelas matrizes e reprodutores, 2,58% pela reposição de animais no rebanho e, apenas 20,27% foi consumo diretamente pelo cordeiro terminado. Isto significa que para se produzir um cordeiro, aproximadamente 80% do gasto energético total é investido na manutenção do rebanho e apenas 20% deste total é correspondente à demanda específica cordeiro terminado.
Tal simulação teórica encontra respaldo na observação prática de muitos produtores rurais que, ao produzirem e venderem seus cordeiros, ainda encontram dificuldade em equilibrar as despesas com o rebanho. É exatamente neste momento que os planos de suplementação dos rebanhos passam a ser percebidos como estratégicos para a saúde econômica dos sistemas.
Em outras palavras, as soluções nutricionais a serem propostas para matrizes e reprodutores, animais de reposição e cordeiros em recria/terminação, devem ser diferentes. Além disso, é importante considerar que são os cordeiros terminados que ao serem vendidos, se transformarão  em capital. Por este motivo, incide exatamente sobre esta categoria à necessidade de maximizar a rentabilidade.
Neste sentido, discutir o potencial genético de ganho de peso da espécie passa a ser de grande relevância. Para discutir este tema, direcionaremos nossa discussão aos cordeiros em recria e terminação. Um outro aspecto a ser considerado é a expressiva amplitude de manifestação do potencial de ganho de peso entre as raças que normalmente são exploradas no Brasil. Entretanto, é importante salientar que para todas elas já foram descritos na literatura, potenciais de ganho de peso relativamente elevados.
Como exemplo, em sistemas intensivos de produção de cordeiros, resultados de ganhos de peso de 0,85% - 1,0% (expresso em % do PV ao dia) são relatos frequentes para animais da raça Santa Inês. Já para animais híbridos, provenientes de cruzamentos com raças de corte exóticas, são  descritos valores de 1,0 - 1,4%.  Para efeito de comparação, considerando a espécie bovina (também em sistemas intensificados), são descritos potenciais de ganho de peso da ordem de 0,35% - 0,40% do PV ao dia. Assim, a espécie ovina durante o recria e terminação pode atingir níveis de ganho de peso até 3,5x superiores aos observados nos  bovinos. Porém, esta potencialidade genética dos ovinos somente poderá ser manifestada, em sistemas intensificados de manejo e nutrição.
A otimização do ganho de peso dos cordeiros configura-se então, como ponto estratégico para o sucesso econômico da atividade, que deve necessariamente passar por um processo de intensificação. Além disso, a definição de planos nutricionais para as demais categorias do rebanho, como as  matrizes, devem respeitar as limitações econômicas impostas pelas margens financeiras da comercialização do produto final (cordeiro). Fica claro portanto, que o valor de mercado da carne ovina acaba por determinar os pontos de equilíbrio do sistema. O que implica em dizer que para cada realidade mercadológica haverá uma solução diferente do ponto de vista nutricional que otimize economicamente o sistema de produção.
Por fim, cabe ressaltar que a nutrição animal em sistemas pecuários opera como principal regulador das intensidades produtivas. Neste aspecto, salienta-se que a suplementação dos ovinos é uma estratégia nutricional necessária nos rebanhos e por este motivo, deve ser planejada levando-se em consideração a realidade econômica de cada sistema de produção.


Prof. Guilherme Benko de Siqueira
Universidade Federal do Tocantins (UFT)

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