segunda-feira, 24 de abril de 2017

24/04/2017

Pense nisso, antes de entrar no negócio!

Se você é ovinocultor, está na atividade já a alguns anos, já deve ter percebido uma certa dificuldade em realizar vendas para os poucos frigoríficos que abatem ovinos no Estado de São Paulo ou em outras regiões.

Está dificuldade é mais notória quando você pretende programar vendas futuras, em escala, para planejar sua estação de monta e demais manejos no criatório. Já se perguntou o porquê dessa realidade? Acho que sim.

Por doze anos senti na pele e no bolso os impactos dessa situação mercadológica de certa forma incoerente, chamarei aqui “desta viscosidade”.  Aí vem aquela desculpa: “Mas a Indústria frigorífica ovina tem suas dificuldades, baixa oferta de produto e falta de padronização.” Não acredite mais nisso, essa é uma meia verdade,  vou dizer porque.

Por muito tempo ofertei à indústria frigorífica, cordeiros de elevada qualidade, híbridos (proveniente de raças procuradas pelos “Chefes de cozinha” em São Paulo), abatidos com 90 – 100 dias (38 – 40 kg), com variação mínima do peso ao abate no lote de 8% . Além disso, oferecia à Industria um relatório completo das ocorrências sanitárias individuais, e acredite, eu ouvia: “Não precisamos disso!”

 A frustrante constatação, por mais que eu investisse tempo e dinheiro em interação com os frigoríficos, por mais que apresentasse novos clientes para a indústria, ela continuava letárgica, com a expectativa de ganhar mais sobre o produtor do que na ponta do mercado. Por muitas vezes, recebi o pagamento dos lotes de forma parcelada. Não dá pra fazer milagre financeiro na criação, não é mesmo?

O que ocorria era a falta de uma visão empreendedora deste segmento no mercado. Muitos (frigoríficos) apresentam um perfil amador, e  muitas vezes, dependem de renda externa ao negócio, para sustentarem suas plantas frigoríficas.

O mercado é comprador sim, o preço final é suficientemente alto para remunerar o setor produtivo e o industrial, mas está sendo mal equalizado. Já há iniciativas no País de plantas frigoríficas prestadores de serviço. Negociam a “usinagem” (abate com inspeção sanitária, processamento) e deixam para o produtor vender o produto no mercado capilarizado (varejo). A vantagem neste caso, é que o produtor sabe quem são seus clientes, sabe o quanto estão dispostos a pagar, e consegue assim, remunerar de forma atrativa seu sistema de produção, gerando maior dinamismo à cadeia da carne ovina como um todo.

O modelo comercial tradicional da indústria frigorífica bovina parece não ser um bom modelo a ser seguido pela cadeia da ovinocultura brasileira. A ovinocultura e seu mercado no Brasil, apresentam peculiaridades que o modelo tradicional do segmento carnes, não está sendo hábil em tratar.

Uma visão inovadora, empreendedora, nesta cadeia produtiva, não seria ruim para nenhum dos lados em tempos de crise. Pense nisso, antes de entrar no negócio.

Prof. Guilherme Benko de Siqueira
Zootecnista, Dr. Produção Animal
Universidade Federal do Tocantins (UFT)
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